Hipnose funciona?

*Samuel Cunha

Quando eu iniciei na hipnose o senso comum entre os hipnotistas era diferente sobre o que era hipnose do que é hoje. 

Mesmo que ainda existam vários “hipnólogos” presos em modelos arcaicos de hipnose, podemos dizer que a hipnose brasileira deu um salto de 2017 para cá no que diz respeito à adotar modelos mais científicos para a explicação da hipnose e do seu uso em tratamentos médicos e psicológicos.

No que diz respeito a esses tratamentos, ainda há da parte de médicos e psicólogos que desconhecem o mecanismo da hipnose, um certo receio quando não até preconceito sobre o uso.

Não os julgo, já que durante décadas a hipnose esteve no imaginário comum como algo místico, uma forma de controle mental ou então uma forma de “energia manipulativa”. 

Lá em 2017 quando começava a aplicar a hipnose como terapia, ainda estudávamos uma hipnose muito baseada na ideia de repressão de memória de Freud, onde o mais avançado que tínhamos em tratamento era: acessar através da regressão a memória inicial do trauma que se repete na vida da pessoa hoje. Não estou aqui dizendo que essa técnica não funciona também, mas a maneira que sabemos hoje do porquê ela funciona, está bem  afastada dessa ideia da psicanálise de um lugar no inconsciente que guarda todos os nossos traumas.

Hoje os tratamentos com hipnose estão cada vez mais baseados em estudos da TCC, Terapia Cognitivo Comportamental, que é uma abordagem da psicoterapia baseada na combinação de conceitos do Behaviorismo radical com teorias cognitivas e considerada a forma de terapia com mais evidências de eficácia em tratamentos de ansiedade e depressão.

Essa relação abriu as portas para estudos da eficácia da hipnose. E hoje temos vários estudos que indicam que o uso da hipnose combinado com  a TCC aumenta em até 80% os resultados na terapia ( Kirsch, Montgomery e Sapirstein, 1995).)

Também um crescente corpo de pesquisa apoia a eficácia da hipnose e dos tratamentos hipnóticos para beneficiar indivíduos com uma variedade de condições, incluindo dor aguda ( Landolt & Milling, 2011 ; Madden, Middleton, Cyna, Matthewson & Jones, 2012 ; GH Montgomery, DuHamel & Redd, 2000 ; Patterson & Jensen, 2003 ; Tomé-Pires & Miró, 2012 ), dor crônica ( Elkins, Jensen, & Patterson, 2007 ; Jensen & Patterson, 2006 ; Jensen, 2009 ; GH Montgomery et al., 2000 ; Patterson & Jensen, 2003 ; Tomé-Pires & Miró, 2012 ), síndrome do intestino irritável (Rutten, Reitsma, Vlieger, & Benninga, 2013 ; Tan, Hammond e Joseph, 2005 ), depressão ( Alladin, 2012 ) e ansiedade ( Golden, 2012 ; Hammond, 2010 ). Além disso, ao contrário de muitas intervenções biológicas, como medicamentos analgésicos para dor, que podem ter custos financeiros significativos (devido à necessidade de uso contínuo), efeitos colaterais negativos e custos sociais (associados a problemas de desvio), as intervenções hipnóticas são relativamente fáceis e baratas fornecer, ter uma infinidade de “efeitos colaterais” benéficos (como maior sensação de controle sobre a dor e seu impacto, maior sensação de bem-estar) e ter muito poucos efeitos colaterais negativos ( Jensen et al., 2006 ). Dada a sua eficácia, baixo custo e perfil de efeitos colaterais positivos, os dados sugerem que o treinamento em auto-hipnose deve ser considerado um tratamento de “primeira linha” para muitas condições crônicas de saúde. Jensen MP, Adachi T, Tomé-Pires C, Lee J, Osman ZJ, Miró J

Ainda há muito a ser estudado no campo da hipnose. Ainda há muito a ser descoberto ou entendido, mas com o que temos de evidências hoje já podemos dizer que a hipnose além de segura e eficaz nos tratamentos terapêuticos, é também muito recomendada como uma ferramenta que melhora e acelera os resultados.


Artigo de autoria de Samuel Cunha. Ele é hipnoterapeuta, trabalha auxiliando no controle de ansiedade, e mudança de comportamentos.

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