Você sofre? Saiba que é natural e que não é preciso ser alegre o tempo inteiro

Quando a gente sofre esse sentimento parece não ter fim, naquele momento a angústia é tão grande que parece que não vai acabar. O sofrimento é diferente da dor, já que a dor é sentida, é a resposta ao estímulo, um alerta de que algo não está bem. Sofrer é se apegar, é manter a dor e repeti-la, antecipá-la, é colocar a dor onde muitas vezes não tem! O sofrer se difere para cada um que sente, impossível medi-lo ou mensurá-lo, já que só quem está dentro da pele sentindo pode saber.

Esse tema já é estudado há milênios e ele vem sendo centro de discussões tanto na filosofia como na religião.

A Bíblia nos ensina como o pecado original nos fez sofrer; o Hinduísmo traz a ideia de estarmos afastados do espírito e presos na matéria e por isso então o sofrimento; o budismo fala que o apego ao que queremos e a aversão ao que não queremos é que é a raíz do que nos faz mal.

Essa última ideia ganha respaldo em pensamentos mais modernos, como o da psicanalista Melaine Klein, que analisa o “ser humano como um ser que se relaciona com objetos, e desde cedo aprende a distinguir entre objetos ‘bons’ e ‘maus’, buscando sempre o afeto do objeto bom e vivendo na ansiedade de ser atacado pelo objeto mau.

Não importa de que maneira ele seja estudado, sentido, debatido e apresentado, o fato é que naturalmente como seres humanos em algum momento vamos sofrer. É inevitável, mas o medo de que isso aconteça leva então ao surgimento de ideias nocivas, de soluções milagrosas, de maneiras que ajudam a gente a negar algo que é importante para o nosso desenvolvimento como indivíduos (sim, o sofrimento é importante para nós, vou explicar o porquê).

Ideias como o positivismo tóxico, aquele que tenta negar emoções como a tristeza e a raiva, delegando todas as coisas negativas a essas emoções, mesmo que essas emoções tenham sido selecionadas porque tiveram alguma utilidade evolutiva na nossa história.

Compramos milagre para emagrecer porque não queremos sofrer cuidando da alimentação e indo à academia. Compramos remédios inibidores de humor porque acreditamos que não devemos nunca nos sentir tristes. Compramos terapias milagrosas que tiram de nós qualquer responsabilidade de mudanças, já que projetamos no “terapeuta” a responsabilidade de reprogramar nossa mente, nosso DNA ou nossa “frequência energética” (às vezes eu nem preciso sair de casa, ele vai fazer tudo a distância para mim).

Não é à toa que os casos de ansiedade e depressão tem aumentado cada vez mais. A gente comprou a ideia de que não pode sofrer e não se preparou para isso! Quando a realidade bate à porta, não sabemos como lidar. Não desenvolvemos os músculos emocionais necessários para lidar com a frustração, com a ansiedade, com a perda, com o luto, com qualquer acontecimento negativo, com qualquer coisa que vai dar errado.

O sofrimento serve como aprendizado. Não existe história de superação sem um momento de indecisão. 

É assim que lidamos com o sofrimento. Isso que uma terapia deve realizar na tua vida. Te ensinar como ficar mais forte para enfrentar o sofrimento que vai vir e não te ensinar a evitar ou negar que uma hora isso vai acontecer.

Se não criamos uma realidade como essa que estamos sendo obrigados a encarar hoje. Pessoas negando que possa existir um vírus que deixa qualquer um vulnerável e preferindo acreditar na cura por medicamentos não validados, do que acreditar que o caminho para o fim da pandemia é mais difícil e exige esforço de cada um de nós.

Num contexto geral, precisamos aceitar a nossa vulnerabilidade se quisermos ser fortes. Isso não é um discurso pessimista, não é para desestimular ninguém, pelo contrário, eu quero que você entenda que não importa a dor, o sofrimento que você esteja passando hoje, isso passa e, quando passar, de alguma maneira você vai sair ainda mais forte, e eu espero que com algum aprendizado que você possa levar para a vida, para o seu futuro, se tornando uma pessoa melhor.

Abraços,
Samuel Cunha

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