Sucessão nas empresas familiares com a visão das presidentes de Piccadilly e Bibi

A Diretora-Presidente e Diretora de Marketing da A.Grings S/A (Piccadilly), Cristine Grings Nogueira, e a Diretora-Presidente da Calçados Bibi, Andrea Kohlrausch, participaram, no dia 11 de março, do painel “Sucessão para o Sucesso”, tratando sobre o assunto da sucessão em empresas familiares, em um dos debates promovidos na 3ª edição do Fórum Fimec, dentro das programações da 44ª Fimec, em Novo Hamburgo.

As duas mandatárias debateram junto de Marcelo Reichert, CEO do Grupo FCC, Rodrigo Rodrigues, diretor comercial da Santa Croce e a mediadora, a jornalista Cristina Pacheco, a importância do planejamento da sucessão, da adoção das boas práticas de governança para o bom andamento do processo, compartilhando erros e acertos de suas experiências e fazendo recomendações às empresas familiares que irão, inevitavelmente, chegar no momento de passar o bastão da liderança.

Forum Fimec I
Mediado pela jornalista Cristina Pacheco, painel “Sucessão para o Sucesso” teve a participação de Marcelo Reichert, Cristine Grings Nogueira, Andrea Kohlrausch e Rodrigo Rodrigues

A empresa em primeiro lugar

A importância de planejar uma possível transição entre gerações, na visão das duas empreendedoras, é algo que deve ser levado em consideração.  Elas pontuam que antes de pensar na geração que virá a suceder as diretrizes de qualquer empresa, deve se pensar primeiro na própria empresa. Se a pessoa escolhida para esse processo é competente o suficiente para dar segmento aos negócios. É entendido que, no caso de uma nova geração não estar apta para tal compromisso, pensando no bem-estar da empresa, não há problema em delegar este alto cargo a uma pessoa vinda de fora da família. E para que toda a transição ocorra de maneira saudável, a organização entra como a chave principal deste processo.


Números apontam que de cada 100 empresas familiares, apenas 30 chegam na segunda geração e, destes, apenas 5 alcançam a terceira geração.


Como foram as transições

Andrea Kohlrausch assumiu a presidência da empresa parobeense Calçados Bibi em abril de 2019 (data em que a marca comemorou os 70 anos de atuação). Ela conta que quando o processo  teve seu início, os herdeiros da terceira geração começaram a ser desenvolvidos e capacitados para a sucessão e, após ser indicada pelos diretores e pelo Conselho Consultivo para ocupar o cargo, tanto o seu planejamento quanto a sua preparação foram os pontos fundamentais para que estivesse apta a suceder seu pai, Marlin Kohlrausch, o então presidente. “Esse processo não pode ser feitos às pressas”. Antes de assumir, Andrea, que era responsável pela área de varejo e expansão de franquias da rede, entrou em um sistema preparatório que contou com várias etapas e durou oito anos. Ela entende que, por mais que a empresa seja familiar, a busca por uma opinião externa também é importante e, por isso, buscou o serviço de uma consultoria estratégica especializada. Um de seus desafios é manter a cultura da empresa, porém, buscando sempre um algo novo. “Assumi a terceira geração recebendo uma empresa saudável em todas as frentes de negócios e com a missão de tornar a Bibi uma marca global de desejo. O foco é evoluir o legado deixado sem mudar a essência da marca, que se manteve viva e sadia por anos”, explica.

Cristine Grings Nogueira não passou por um processo muito diferente quando assumiu a presidência da sexagenária igrejinhense A.Grings S/A (Piccadilly), em 2015. Inclusive, neste ano, dava-se início a uma grande crise econômica no país e, por si só, já havia um desafio enorme a ser vencido. Ela, que também faz parte da terceira geração, conta que, mais do que nunca, a organização  foi um ponto fundamental para que fosse eleita sucessora do então presidente, seu tio Paulo Grings. ” Eu, como presidente, e a Ana (Paula Grings), como vice, fomos eleitas pelo nosso grupo da terceira geração. Apenas irmãos e primos escolheram, sem a interferência dos membros da geração anterior (seu pai Tibúrcio e seus tios Paulo e Adair Grings). Foi importante porque nos deu união, como grupo, para vencer os desafios que vieram”. Cristine conta que, reiterando a importância do planejamento e da organização, naquele mesmo ano foi criado um conselho de administração, formado por um membro de cada um dos três principais núcleos familiares da empresa. “Temos ainda um presidente que não é membro da família e uma consultora independente”. Ela entende que, assim como qualquer empresa, familiar ou não, os conflitos existem e, por isso, esse olhar vindo de fora da família acaba se tornando algo muito importante. Cristine também cita que a resiliência, a capacidade de lidar com problemas ou adaptar-se às mudanças propostas, é algo importante nesse processo de transição entre gerações. “Precisávamos mostrar logo de cara que não estávamos assumindo para mudar a equipe, mas que a equipe precisava entender e aceitar as propostas dessa nova liderança”.

Forum Fimec II
Cristine Grings Nogueira e Andrea Kohlrausch deram relatos e dicas quanto à sucessão familiar nas empresas

Os prós e as atenções

Andrea e Cristine também debateram com os outros painelistas dicas do que pode ser vantajoso em empresas familiares, assim como alguns pontos que devem ter uma certa atenção. São estes:

Vantagens da empresa familiar:

  • Identidade, tradições e valores da família incorporados na cultura organizacional;
  • Compromisso, visão de longo prazo e senso de missão, criando sentido de pertencimento;
  • Elevado grau de confiança nas relações, baseado no compartilhamento de interesses e valores;
  • Comprometimento social e sustentabilidade com maior consciência de seu impacto nas comunidades onde se inserem

Pontos de atenção na empresa familiar:

  • Confusão de papéis;
  • Dificuldade de exercer autoridade com parentes;
  • Informalidade e falta de controles;
  • Pressões da empresa podem prejudicar relacionamentos familiares;
  • Necessidades da família podem crescer mais rápido que a empresa;
  • Dificuldade na sucessão e passagem de bastão

O futuro é logo ali

Assim como Andreia e Cristine se prepararam para assumir os principais postos de suas empresas, elas preparam o cenário para a vinda de uma nova geração desde já. “A minha geração conheceu a figura do fundador da empresa (seu avô, Almiro Grings), mas a quarta geração já não terá esse privilégio. Por isso a importância de seguir e ensinar os preceitos dele, como primeira geração, e de meu pai e tios, como segunda geração, somadas às nossas, aos que virão”. Andreia também entende que a preparação é importante e isso aumenta a responsabilidade para que sua geração prepare a melhor condução de quem a vier suceder no futuro.

Por fim, após um enriquecedor painel, Andrea presenteou a bancada participante com o livro “A construção de uma marca com propósito”, recém lançado por seu pai, Marlin Kohlrausch, onde é retratado os seus segredos de gestão para que executivos de todos os portes, empreendedores e profissionais liberais possam construir empresas sólidas, valiosas e, principalmente, duradouras.

Forum Fimec III
Andrea Kohlrausch presenteou a bancada participante do painel com o livro de seu pai, Marlin Kohlrausch

*Fotos: Drops do Cotidiano

 

 

 

 

 

 

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