A última frase de uma crônica que li há pouco no Jornal Zero Hora, de autoria de Fabio Brun Goldschmidt, me transportou para o agora, instantaneamente. Ele finaliza o seu texto dizendo que: – “A beleza está em perceber que a vida não é uma questão de comprimento, mas de largura”, citando antes disso Fernando Pessoa, com sua famosa frase: – “Para sermos grandes, sejamos inteiros”.
Em meio à tanta futilidade neste mar de informações e experiências desnecessárias e inúteis no dia a dia, perceber a “largura” da vida é para poucos, certamente. Uma raridade que salva do desalento quando só se enxerga a longa estrada a trilhar e se esquece o instante, neste largo e único momento que existe, que é o agora.
A “largura” de tudo aquilo que sentimos, que ignoramos, que amamos, que detestamos, que observamos, que aproveitamos, que desperdiçamos, que reconhecemos, que reclamamos, que choramos, que sorrimos, que enxergamos, que omitimos, que aceitamos, que mentimos, que consentimos, que afirmamos, que negamos, que aprendemos, que esquecemos… mas que nos deixa inteiros.
Realmente, o comprimento não importa para quem vive inteiramente uma existência, seja ela do tamanho que for. Alguns mais, outros menos, e no final das contas o que importa é com o quê preenchemos este espaço no tempo que temos, entre uma margem e outra.
Como em um rio, dá pra ver as águas no fluxo da correnteza que segue ininterrupta, mas limitada pelas margens, pela “largura” que determina o caminho do leito, a profundidade e o grau de assoreamento. As margens delimitam o caminho das águas que desembocarão em outro lugar, bem longe, talvez desconhecido.
E, em reconhecida ignorância, não seria essa a melhor trajetória do bem viver? Preenchermos a vida, de uma margem à outra, enquanto a correnteza leva o resto até o fim do curso, que ninguém sabe ao certo onde vai desembocar? Não seria esse o caminho de quem já nasce grandioso e quer chegar inteiro ao fim da jornada?