Com quem você conversa à meia noite, às cinco da manhã ou à uma da tarde?
Certamente deve ter alguém acordado, insone ou bêbado na madrugada querendo conversar, simplesmente, ou em qualquer outro horário, por necessidade, carência ou desabafo.
E sempre haverá um ser humano, assunto e disponibilidade entre os que se dispõe a interagir, o que, convenhamos, está cada vez mais raro, diante do monólogo decretado e estabelecido em crescente insanidade, nestes perfis de gente Fake News que nada diz, apenas resmunga, quando o melhor seria ir dormir, mesmo.
Nunca imaginei o quanto fariam falta a palavra verdadeira, a conversa sincera, o olhar e a troca de ideias, ainda que divergentes. Quando a internet surgiu, vislumbrava um mundo conectado de maneira construtiva, o que até existe, mas é preciso garimpar e peneirar a sujeira. E não adianta varrer para debaixo do tapete. Um dia, a imundície vem à tona e a casa fica inabitável.
Portanto, certamente tem alguém aí do outro lado da tela entendendo e refletindo ao ler atentamente este texto, assim como também há quem não consiga ler além do título, por absoluto desinteresse e analfabetismo funcional.

Nas últimas semanas deste mês de outubro, especialmente, que acumula inúmeros compromissos para todo mundo, anunciando o final do ano, tenho conversado presencialmente com muitas pessoas. Uma catarse nestes tempos pós-pandemia (ou quase), onde há muito o que dizer. Uma alegria sem fim, seja nos encontros literários, nas corridas de rua, nas viagens, nos bares, restaurantes, na academia ou com os vizinhos da esquina.
Quanta coisa para entender, explicar, analisar, rir, chorar, comentar, refletir, acertar, consertar, esclarecer. E, sem nenhuma surpresa, paradoxalmente também me deparo com uma imensa maioria que segue falando sozinha, por mensagens cheias de enganos e mentiras jogadas ao vento.
Não sei se a tendência é piorar, só sei que conversar faz bem e nos humaniza, apesar de todas as divergências e polarizações que assolam o mundo todo. Senta aí com seu melhor amigo, namorado, marido, vizinho ou com o dono do mercado do seu bairro e experimenta trocar uma ideia, como fazíamos há nem tanto tempo assim, sentados em cadeiras nas calçadas, sorvendo um mate para organizar os pensamentos.
A verdade transparece quando se olha de frente e se diz só o que se sabe por aprendizado e vivência. Até aquilo que não entendemos ou não tivemos a chance de experienciar pode clarear a mente mais obscura, desde que disposta a se abrir em diálogo, em análise e reflexão, porque o mundo não se resume a uma dança sem par. Para deslizar com leveza, precisamos do outro também nos conduzindo pelo salão, em passos e compassos, no ritmo que conseguirmos acompanhar, independentemente da música que está tocando ou de quem nos faz rodopiar pelos bailes da vida.