Esquartejamento

Faz tempo que esquartejaram a verdade. É mais fácil assim, deixar tudo em pedaços para dificultar o entendimento. Queimar o arquivo, as digitais, o filme, a floresta, a vida.

Deixar o barco ser levado pela correnteza até sumir em águas barrentas, turvas, sujas por mãos suspeitas. Ato falho de quem sobrevive em meio à ganância. Longe das câmeras e das leis, tudo é possível.

A correnteza leva tudo rapidamente para o esquecimento. Não há meios de saber, de colar restos, de ressuscitar mortos em meio ao caos. Resta a fumaça do que foi queimado como lenha e enterrado para apodrecer no fim (ou seria o começo?) do mundo.

E o rio murmura em silêncio o saber ancestral, a verdade calada à força, a voz dos que não tiveram tempo para gritar. Faz tempo que amordaçaram o rio, mas vocês não perceberam porque esquartejaram a verdade e ninguém viu.

 Assim, o barco ancora à margem assoreada pelo medo e não navega mais até que o sangue escorra para o leito assombrado deste mesmo rio, onde repousam as almas e os pedaços dos que por ali navegaram em paz.

Aliás, faz tempo que a paz foi embora dali, também, para se embrenhar ainda mais na mata escura, onde reina o silêncio ancestral e a verdade que jamais será assassinada. E ali, só a natureza guarda a resposta para todas as perguntas.

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