Nesta pandemia estamos vivendo cada um no seu mundo paralelo. Talvez com medo dos acontecimentos reais, acabamos querendo viver nos mundos paralelos para não sentir dor e quem sabe fazer de conta que isso não esteja acontecendo.
Neste momento, 17h30 de uma terça-feira, escrevo deitada na rede amarela na sacada do meu quarto.
Os passarinhos estão cantando, as árvores balançando, minha vizinha Mari molhando as flores, a Cenira dando quirera para os passarinhos, a Vó Julita – com os seus 95 anos completados segunda-feira – está sentada no banco embaixo do pé de três-marias.
Meu marido dentro de casa no home office desde às 8h, o Arthur mesmo voltou do trabalho e a Júlia está se preparando para a aula do ensino confirmatório.
Nossa cachorrinha Mel está sentada aqui comigo fiscalizando os movimentos da rua.
Nos encontramos no café da manhã, no almoço e na hora do chimarrão, momentos estes nos quais falamos dos nossos mundos paralelos.
É uma mistura de assuntos: aula, anime, jogos, política, notícias, trabalho, mortes, coronavírus, medicamentos, agendas, como dormimos, como está o tempo e a inesquecível dúvida de até quando vamos viver com tantas restrições.
Ficamos pouco tempo todos juntos no mesmo ambiente, temos uma certa dificuldade em esperar para cada um falar na sua vez e, principalmente, de ouvir o que cada um tem a dizer.
Cada um é quase expert no seu mundo paralelo e leigo no mundo do outro.

Tal tentativa de querer falar sobre o mundo do outro será frustrada porque só sabemos do nosso mundo. Em alguns momentos parece que estamos falando em línguas diferentes. Na verdade tudo depende do ponto de vista.
Meus filhos neste momento são adolescentes e estas mudanças no relacionamento entre nós pais e eles filhos tem a ver com autonomia e privacidade.
Enquanto nós pais avaliamos as características dos nossos filhos em relação a nós como adultos, eles se comparam com os seus amigos e colegas.
Se a gente lembrar o que estaríamos fazendo com os nossos 11 e 14 anos, entenderíamos eles perfeitamente, assim como eles nos entenderão quando tiverem os meus 37, podendo deitar na rede e apreciar viver no momento presente.
Até lá eles necessitam viver no mundo paralelo deles, afinal, é lá que estão os seus amigos e colegas e quem realmente fala a mesma língua deles.
Agora a gente não vai entendê-los e nem eles a nós.
Viva a autonomia dos mundos paralelos e tão diferentes.
E viva a celebração através destas doses diárias de união de todos estes mundos.
Aceitando outros mundos, Muri 💛