Meu primeiro voto foi em uma cédula de papel. Isso faz bastante tempo e, por um logo período, essa era a única maneira de escolher seu candidato, marcando um “x” no nome do político favorito. Na época, como jornalista, eu e meus colegas tínhamos que acompanhar o escrutínio dos votos até a apuração final, o que levava dias, podendo chegar até mais de uma semana.
Tarefa demorada e que gerava uma grande movimentação na contagem voto a voto, com os escrutinadores sendo observados o tempo todo pelos fiscais dos partidos que se aglomeravam sobre suas cabeças para ver se ninguém estava contando errado ou se o voto era válido mesmo. Tinha até piadas escritas nas cédulas de papel e nome de candidatos que nunca existiram, como deboche e protesto aos concorrentes que se apresentavam, além de constantes pedidos de recontagem e de impugnação da urna suspeita.

E lá íamos nós acompanhando e anotando manualmente os resultados parciais para enviar à redação no prazo estipulado para o fechamento da edição. No outro dia, bem cedinho, lá estávamos todos nós de novo, contando junto com os escrutinadores cada cédula depositada nas urnas. Trabalho lento e sujeito a erros ou fraudes, mas sempre sob o olhar rigoroso dos fiscais para que isso não ocorresse.
Quando chegou a urna eletrônica, nos libertamos desse calvário e o resultado de uma eleição já podia ser conhecido no mesmo dia, com toda a segurança, assim acreditamos. Agora, querem imprimir esse voto eletrônico em papel, alegando que isso evitaria fraudes e facilitaria a conferência urna por urna. Pode?
Pode, mas é um retrocesso sem cabimento. Chegar até o voto eletrônico, num dos sistemas mais modernos do mundo, exigiu todo um investimento em tecnologia e segurança que nos colocam como referência para outros países que ainda votam em cédulas de papel.

Além de antiecológico, seria como andar para trás e gerar despesas extras sem a menor necessidade. Se há suspeita de fraude na urna eletrônica é muito mais fácil fiscalizar agora do que com aquele bafo na nuca dos escrutinadores da antiga.
Papel serve para muita coisa, só que hoje é uma opção alternativa ao virtual, e só em último caso. Nem jornais estão sendo mais impressos, nem carteira de motorista, nem conta de luz. Diante disso, seria importante repensar o uso do papel nas próximas eleições, utilizando-o para outras finalidades imprescindíveis e inadiáveis, como aquelas urgências que não podemos conter. Pensando bem, na urna, talvez sirva para algo parecido e possa limpar a sujeira que fica de um ou outro candidato à espera do seu voto.