O mundo parou de pavor, agora transformado em silêncio que, por sua vez, transforma vidas. Tudo está se aquietando cada vez mais da janela pra fora, ainda que por decreto. Ouço o sussurro de um planeta que chora, mas também agradece.
Exaurida, a natureza revida de tempos em tempos, embora nós, neste momento, esqueçamos as lições do passado que não vivemos e que não aprendemos nos livros de história. A vida ensina, por bem ou por mal. Nascer, crescer e morrer é o destino de tudo e de todos, cada um ao seu tempo, no seu tempo, em qualquer tempo.

Assim, chegamos até aqui, neste novo ano astrológico que começou ontem, dia 20 de março, regido pelo sol. Confinados, apavorados, calados à força por algo invisível, com um poder devastador que obrigou a humanidade a parar todas as engrenagens do progresso, do consumo, da ganância.
A máquina emperrou e a natureza agradece, nos entregando novamente o som dos pássaros, o barulho do vento, um horizonte limpo de poluição. O preço a pagar está sendo tão alto quanto a destruição causada nos últimos anos em todo o planeta.
E ainda que estejamos todos no mesmo barco (ou avião), alguns milhões morrerão mais rapidamente por absoluta falta de acesso à saneamento básico, hospitais e aos recursos básicos do sistema de saúde, essenciais à vida humana. Outros serão surpreendidos aleatoriamente, em pleno voo. E outros se apegarão a teorias conspiratórias, planando por aí.

Mas haverá os que, em silêncio, tendo o sol como guia, conseguirão ver a luz refletida no outro, iluminando novamente o planeta. E ainda que o barco afunde, esses poderão dizer um dia que cumpriram a jornada, aprendendo a grande lição que é ouvir a si mesmo, enquanto o vento dança com as folhas das árvores e os pássaros cantam ao amanhecer de cada dia, em qualquer tempo.
Não é fácil falar de flores neste momento difícil, mas repito: a natureza agradece e retribuirá de forma mais generosa, talvez, quando fizermos o tema de casa e passarmos de ano, sem reprovar em nenhuma disciplina.