Já li muitos textos que falam que na vida devemos prestar atenção aos pequenos detalhes. É uma grande verdade, porém o que acontece, na maioria das vezes, é que acabamos envolvidos na rotina do dia-a-dia, na “correria”, deixando passar despercebidos muitos momentos ou fatos que, aparentemente simples, podem transformar o nosso dia ou nosso humor.
Em se tratando de tempo, gosto de uma música que na sua letra traz versos que dizem o seguinte:
“Ando devagar porque já tive pressa.
E levo esse sorriso,
Porque já chorei demais.
Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz quem sabe.
Só levo a certeza
De que muito pouco sei,
Ou nada sei.”
Talvez mais algum leitor já tenha experimentado alguns sentimentos que tenho vivenciado ao longo da vida. Acredito que, como dizem os versos da música de Almir Sater, pouco sei. De forma paradoxal, a percepção que tenho hoje de alguns momentos da vida é muito diferente daquela que eu tive anos atrás.

Por exemplo, lá pelos meus 20 anos, eu sonhava eu ter uma casa espaçosa, com muitos cômodos e especialmente um salão de festas muito grande, onde eu poderia receber amigos e fazer grandes comemorações. Hoje, na casa com 90 m², já estou muito satisfeito, porque nesse espaço já tenho muito pó para tirar e muito chão para limpar. Sim, aqui é mão na massa, as lidas domésticas são divididas com a esposa. Apesar das peças enxutas e pequenas, já recebemos muitos amigos aqui e, em momentos de maior aglomeração, hoje restritas e todo mundo sabe porque, até a escada serviu de espaço para acomodar as visitas. Prova de que não é o tamanho do local que faz a diferença, mas sim a energia que está nas pessoas que ali convivem e confraternizam.
Esse breve relato foi apenas um pretexto para falar da relação entre quantidade, qualidade e tempo. Pode parecer piegas, mas me parece que com o passar do tempo ficamos mais seletivos para algumas coisas, aprendemos a dar valor a outras coisas outrora despercebidas, aprendemos a valorizar pequenos fatos e momentos. Coisas simples nos marcam profundamente. Claro, isso só acontece se nos permitimos evoluir. E esse caminho, quando o escolhemos e o aceitamos, é constante, cíclico, renovador e em permanente movimento. Uns poderiam chamar de maturidade, outros de serenidade, até mesmo aprendizado.

Quando atingimos esse grau de conhecimento próprio, a quantidade às vezes não faz diferença, mas sim a qualidade: a qualidade das amizades, dos momentos, da emoção vivida.
Em termos de quantidade, valorizo muito mais o tempo, até porque esse é permanente, mas sem possibilidade de retroagirmos. No momento em que escrevo essas linhas, posso até apagá-las e reescrevê-las, mas o ato realizado permanecerá.
O ano que passou mexeu com todo mundo, nos privou de muitas coisas mas nos permitiu tantas outras. O Rei Roberto Carlos já falava dos “detalhes”… Então, é tempo de pensar nas pequenas coisas, nos pequenos momentos, até porque a felicidade é feita justamente da soma das pequenas mas intensas emoções, que transformam nossas vidas num grande acontecimento.

A primeira coluna de 2021 vem assim, despretensiosa, meio descansada, mas carregada de esperança, de troca de experiências. São “drops” de otimismo, de reflexão, de debate, e se for preciso até “puxões de orelha”.
Pretendo no decorrer do ano trazer pequenas doses de humor, de relatos, de amor, de amizade, para serem consumidas sem moderação. Lembre-se sempre que o tempo, esse é gigante, então, vamos aproveitá-lo intensamente, lembrando ainda (buscando referência na sabedoria popular) que “tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”.