Para Grégorys e Joaquins

Joaquim chama-se, na verdade, Grégory. Assim mesmo, com acento no “e” e com Y no final. “Nome de pobre”, diz ele rindo, em alusão aos inúmeros registros de nomes exóticos registrados neste país.

Em público, Grégory diverte-se com o pseudônimo que lhe ocorre na hora. Apresenta-se como Joaquim, sem dar importância aos colegas que brincam porque sabem da sua verdadeira identidade.

Adolescentes, todos me fitam atentos neste bate-papo na Escola Estadual Berthalina Kirsch, em Igrejinha, onde participei falando sobre livros e jornalismo para uma simpática galera, a convite da colega jornalista Lidiani Lehnen, que assessora o vereador Guto Scherer, num projeto de incentivo à leitura.

Crônica Roseli

O mais interessante é que Grégory, ou Joaquim, tanto faz, vence a barreira da timidez e de imediato sai fazendo piada, debochando de si mesmo, para mostrar, talvez, seu verdadeiro talento, que é escrever. Lê um poema de sua autoria para a turma e antes do encontro acabar ele já havia escrito um pequeno conto, no celular mesmo, sobre um crime passional.

Sem medo de submeter-se à crítica de jornalistas e professores, Grégory, disfarçado de Joaquim, não se intimidou e aproveitou a oportunidade para expor sua incipiente produção literária, que já merece o devido respeito.

O jeito leve e a conversa descontraída revelam aos poucos a delicadeza e a força de vontade de quem só precisa de uma oportunidade, como todos ali naquela sala. Cada um com suas habilidades latentes, para começar a vida profissional, o que não é tarefa fácil para ninguém.

Fico imaginando como seria se não houvesse alguém para mediar esse aprendizado, incentivando esses jovens a ler, a escrever, a saber e a desbravar novas possibilidades. Como seria a vida sem escola, sem professores, sem essa troca enriquecedora entre Grégorys e Joaquins.

Nem todos os pais e meios virtuais são capazes de transmitir tantos conhecimentos quanto o que acumulamos dentro da escola nessa fase da vida, onde tudo é interessante, engraçado e, ao mesmo tempo, trágico, como o próprio nome. Grégory acha que tem nome de pobre, o que talvez lhe cause algum “constrangimento” imaginário por não gostar da escolha feita, na maioria das vezes, com muito orgulho, pelos pais.

Enquanto isso, Joaquim assume o comando e não esconde o desejo de continuar escrevendo, eufórico por compartilhar suas ideias com gente do meio, como nós escritores que, aliás, criamos personagens e nos camuflamos com pseudônimos ou heterônimos só para podermos exibir nossa verdadeira identidade nas entrelinhas de cada texto.

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