O que estão fazendo com as nossas crianças? Quem protege os incapazes, pobres, vulneráveis à violência dos que obrigatoriamente os deveriam proteger? Quem se responsabiliza por esses que vagam por aí sem a tutela dos pais e invisíveis aos órgãos competentes?
O que estão fazendo com essas crianças que nasceram para brincar, aprender, rir, correr, estudar, amar e ser amadas, serem abraçadas, protegidas, amparadas, abençoadas, ainda que nas condições mais miseráveis de vida? E, justamente por isso, é que deveriam ser cuidadas, vigiadas, observadas e encaminhadas para o melhor caminho, seguro para um futuro digno.
O que estão fazendo com aquelas crianças que nem convivem conosco, que não pertencem à nossa família, mas pelas quais todos seremos responsabilizados a cada ato de omissão, julgados pelo que não fizemos, condenados por não termos coragem de denunciar, de ouvir, de apoiar, de se envolver, de perguntar, de carregar no colo para que não sejam assassinadas em uma madrugada fria, despejadas no lixo pelas próprias mães que deveriam aquecê-las, apesar da miséria extrema, com o cobertor do amor?
O que estão fazendo com as nossas crianças? E não perguntem quais crianças, por favor! Todas as crianças são nossas! Sim, de todos os que assistem agora ao noticiário chocados, incapazes de entender o que faz de uma mãe uma assassina, em desespero, em surto, embriagada, drogada, revoltada, incapacitada ou o que for.
O que estão fazendo? O que estão pensando? O que está acontecendo? Choremos por elas, essas pequenas vítimas que não tiveram voz; nem pai, nem mãe para ampará-las; nem uma oportunidade sequer; nem o olhar vigilante dos que servem em órgãos públicos e são eleitos e pagos por nós para protegê-las; nem de ninguém; nem de nós mesmos, que assistimos omissos, estarrecidos, incapazes de gritar, de olhos vendados, como convém a quem não tem nada a dizer, como crianças mimadas que se escondem debaixo da cama, com os pés de fora, achando que não serão descobertas por suas travessuras.
E, assim, seguimos, acobertando nossas pequenas grandes falhas, com a pergunta que não vai calar tão cedo e que deveria ecoar todos os dias, como sinos badalando na torre da igreja: “O que estão fazendo com nossas crianças”?