Ao contrário do que pode sugerir o título, a crônica dessa semana não trata do quarto de alguma criança mais ativa ou agitada, tampouco o refúgio de algum animal de estimação, digamos, não tão obediente.
Em um livro que li recentemente e que não lembro do título, eu vi essa expressão: “Quarto do Furacão”. No enredo do livro, o termo “quarto do furacão” tratava-se não de um cômodo de uma casa ou local, mas sim do tempo, do espaço que o protagonista encontrava para se “refugiar” e tentar encontrar a calmaria e serenidade em momentos de dificuldades e, a partir desse momento buscar as soluções necessárias. No livro, “quarto do furacão” era uma analogia aos cômodos usados em momentos de tempestades tão comuns nos Estados Unidos e que, felizmente, em nosso país não são frequentes.

Não tenho formação em psicologia: o pouco que sei advém das leituras que faço e de algumas experiências. Mas admiro muito esse ramo de estudo e profissão. Para mim, a mente humana continua sendo um desafio mas também uma fonte de trabalho e estudo inesgotável, justamente por conta de nossa individualidade: todos temos características únicas.
Muito raro alguém que não tenha entre seus objetivos a felicidade e a tranquilidade, mas a vida muitas vezes nos traz momentos turbulentos e desafiadores, muitas vezes fora de nosso controle e não provocados por nós.

Esses momentos de “tormenta”, digamos assim, desafiam nossos instintos, muitas vezes jogam nossa autoestima no chão, parecem não ter solução. E aí cada um de nós, a sua maneira, tenta reagir aos fatos. De especialistas, amigos, orientadores, as dicas para superar os momentos de dificuldades serão parecidas, e envolverão serenidade, análise dos fatos-causas-consequências-possíveis soluções, bom senso e muitas vezes, tempo.
Nesse sentido, acredito que cada um de nós terá o seu quarto do furacão. Repito: não é um cômodo, mas sim aquilo que buscamos em nós mesmos, a essência própria que nos estimula a superar adversidades, ao nosso modo.

Pode ser o aconchego do colo do pai ou mãe, pode ser a conversa franca e despida de rótulos com o melhor amigo ou o tempo sozinho, tantas vezes necessário. Nosso “quarto do furacão” pode ser o momento de oração ou reflexão, pode ser o retiro, o contato com a natureza ou a prática esportiva. O “quarto do furacão” pode ser aquele hobby que nos acalma, pode ser a leitura ou simplesmente a contemplação.
O que importa, no “quarto do furacão”, é que se encontre a paz, a vontade e as possibilidades de fazer algo diferente, de encontrar meios para superar os obstáculos. No nosso “quarto do furacão” sempre deve haver tempo para refletir, para pensar sobre mudanças e aceitá-las como parte de nosso próprio crescimento e aprendizado.

Ter um “quarto do furacão” é ter tempo para si mesmo, é procurar se conhecer, é ter uma base sólida, mesmo em tempos de tormenta. O “quarto do furacão” indica algo sólido, que nos protege, que nos permite vislumbrar uma esperança. Um velho ditado diz que “depois da tempestade vem a bonança”. A afirmação carrega uma meia verdade, afinal, em nossa vida é preciso encontrar um porto seguro, um quarto do furacão, para as vezes que enfrentarmos provações e desafios.
Pois antes de tudo, para aproveitar a bonança, é preciso suportar a tempestade. E para tanto, é preciso, no momento da dificuldade, encontrar o apoio. E essa base, esse apoio, na maioria das vezes, está escondido em nós mesmos, na nossa própria capacidade de superar obstáculos. Pensem nisso!