Representatividade, saúde emocional e sustentabilidade: os pilares do live-action Super Buby

Muito além do entretenimento, o live-action Super Buby surge como um instrumento potente de transformação social. Com narrativa centrada em uma protagonista afro-indígena e temas como diversidade, vínculos familiares e meio ambiente, a série infantil tem mobilizado profissionais de diferentes áreas para criar conteúdo sensível, educativo e emocionalmente saudável. Entre os destaques desse time está a psicóloga Liziane Guedes, doutora em Psicologia pela UFRGS e cofundadora do Espaço Interdisciplinar Estrela Preta, em Porto Alegre, que participa ativamente do desenvolvimento de personagens e roteiros da produção.

Segundo Liziane, o olhar da Psicologia tem sido essencial para garantir coerência entre o comportamento dos personagens e seus contextos sociais, raciais e familiares. “Contribuímos para construir personalidades com base em experiências reais das infâncias brasileiras. Um exemplo é o comportamento de Valentina diante da ausência dos pais no cotidiano e sua implicância com Maitê e Buby. Isso reflete processos emocionais comuns, como a busca por atenção e pertencimento”, explica a psicóloga.

A série também se propõe a ser um espelho positivo para crianças negras e de outros grupos historicamente sub-representados. Liziane destaca que o protagonismo de Buby – uma menina de pele escura e cabelos volumosos – rompe com um histórico de invisibilidade: “Buby não está sozinha, ela tem família, ancestralidade e uma rede de apoio que sustenta sua trajetória. A estética, os vínculos e os desafios vividos por ela validam modos diversos de ser e existir”.

Além da representatividade racial e de gênero, Super Buby integra valores de sustentabilidade em sua narrativa, ensinando de forma lúdica e afetiva sobre responsabilidade coletiva e ética ambiental. “Ensinar que os recursos são finitos, que o cuidado é recíproco e que o planeta não nos pertence é parte da construção de uma infância mais consciente. Esses aprendizados ajudam no desenvolvimento de vínculos sociais mais saudáveis e empáticos”, afirma Liziane.

A experiência da psicóloga na construção do universo de Buby também evidencia o potencial da mídia audiovisual como ferramenta de promoção de saúde mental em larga escala. “Hoje, a Psicologia ainda é muito restrita aos espaços formais de saúde e educação. Poder aplicar esse saber técnico em um projeto acessível para tantas famílias é de grande relevância”, avalia.

A diversidade representada em Super Buby também se manifesta nos corpos, idades, humores e modos de vida dos personagens. Para Liziane, essa pluralidade é educativa por si só. “Ensina que pessoas diferentes pensam e sentem de maneiras distintas. E que tudo bem ser assim. A chave é acolher e respeitar as diferenças, como vemos quando Maitê lida com a ansiedade antes de uma apresentação escolar”.

Apesar do potencial educativo da série, a psicóloga alerta que o conteúdo não deve ser visto como um manual. “Nosso objetivo é ampliar repertórios, não impor comportamentos. Os desenhos, bem como live-actions, devem inspirar, emocionar, provocar reflexões – e não ditar regras”.

Na visão da especialista, projetos como Super Buby são urgentes no cenário atual, marcado por desafios ambientais, crise de vínculos e escassez de representações positivas para infâncias plurais. “A série discute temas como redes sociais, novos arranjos familiares, racismo, etarismo e emergência climática com leveza e profundidade. Isso é raro e, por isso mesmo, essencial”.

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