A História tradicional destaca muito mais os feitos masculinos em relação aos femininos ao longo do tempo. No entanto, a contribuição das mulheres é essencial e tem uma significativa importância. Quando se conversa sobre a colonização e o desenvolvimento da região, elas aparecem em muitas falas, embora, em sua maioria, não estejam citadas nos livros. Sabendo disso e conhecendo a realidade da localidade de Ilha Nova, no interior de Rolante, a escritora Franciele Carina Schmidt escreveu a obra “Legados Femininos: a trajetória das mulheres de Ilha Nova”.
Licenciada em História pela Faccat, atua como coordenadora do Museu Histórico de Rolante e atualmente reside na localidade de Ilha Nova pesquisada e retratada. Devido a ligações familiares, a Ilha Nova apareceu muito cedo em sua vida e, desde o início da faculdade, elaborou alguns trabalhos de pesquisa sobre instituições culturais da localidade.
A pesquisa sobre a história das mulheres de Ilha Nova se motivou quando percebeu um vazio significativo em escritos históricos anteriores, e não apenas sobre a localidade, mas em um cenário geral na região. Ao final da graduação, surgiu sua primeira pesquisa científica voltada para a história feminina, o trabalho de conclusão de curso intitulado “Estereótipos, silenciamentos e rupturas: a representação das mulheres luteranas de Ilha Nova entre 1915 e 1950” – reconhecido como TCC Destaque no Curso de História da Faccat. “Digo que este trabalho foi o ‘divisor de águas’, porque dele nasceu uma vontade enorme de continuar analisando e pesquisando sobre as mulheres de Ilha Nova”, relembra.
A produção
Conforme a autora, o processo de pesquisa e redação foi longo, marcado por uma análise de diferentes tipos de fontes. Documentos, livros de presença, atas, fotografias, relatos e entrevistas compuseram o conjunto utilizado na construção da obra, e o trabalho com fontes primárias exigiu tempo, sensibilidade e dedicação. “Em diversos momentos da pesquisa, se fez necessário lidar com aquilo que não estava dito, interpretar silêncios e encarar as ausências nas documentações, reconhecendo que muitas vezes as experiências femininas foram invisibilizadas nas narrativas”, avalia.
É justamente a partir desta percepção que surge a estruturação da obra. Seus capítulos apresentam aspectos importantes da vida pública e privada das mulheres de Ilha Nova, reconhecendo suas trajetórias e o protagonismo que exerceram no cotidiano da comunidade. “Para a construção do mesmo, foi fundamental o auxílio que recebi de mulheres de Ilha Nova, que prontamente me receberam e aceitaram compartilhar comigo suas experiências e de mulheres de sua família”, agradece.

A escrita, edição e publicação foi possível após a aprovação do projeto cultural em edital da Lei Aldir Blanc, no município de Rolante. A obra “Legados Femininos: a trajetória das mulheres de Ilha Nova” pode ser adquirida na Casa da Colônia em Rolante, ou direto com a autora por meio do e-mail francielecarina10@gmail.com.
Representatividade e protagonismo delas
“Legados Femininos: a trajetória das mulheres de Ilha Nova” foi lançado no dia 12 de novembro, na localidade de Ilha Nova, com a presença da comunidade. “Foi um momento marcante, porque pude observar que mulheres presentes sentiram suas histórias sendo registradas e reconhecidas. Acredito que essa seja a maior contribuição da obra para a comunidade e para a cidade de Rolante: oferecer um espaço de valorização, memória e reconhecimento da profunda participação feminina na formação social, cultural e econômica do território. É um gesto de justiça histórica, mas também de afeto, que reafirma a importância de ouvir e registrar as vozes e a atuação das mulheres que construíram, e seguem construindo nossa história”, reconhece a autora.
Uma apaixonada por história
Desde criança, sempre foi apaixonada por história e relembra com carinho os primeiros livros que ganhou, ainda na infância, que a motivaram a seguir o caminho da pesquisa histórica. “Não me vejo fazendo outra coisa que não esteja vinculada à investigação do passado, e a escrita surgiu como uma possibilidade de divulgar parte das minhas pesquisas”, conta.
Este é o seu primeiro livro como autora. Anteriormente, participou com escritos na obra “A Ilha: de tropas e colonos”, em revistas sobre a localidade de Ilha Nova, e contribuiu na organização da obra “O livro de receitas da minha avó: preservando memórias gastronômicas”.