As literaturas locais: o eco da voz dos escritores do Vale do Paranhana

O Paranhana parece respirar literatura. Quando chega a FLITAQ – Festa Literária Internacional de Taquara, as ruas se enchem de vozes, cores e histórias. O Sesc transforma o município em um grande palco da imaginação, onde leitores, escritores, artistas e professores se encontram para partilhar o poder da palavra. É ali que as narrativas do Vale ganham corpo e eco, reafirmando a força das literaturas locais — esse espelho em que o povo se vê, onde o cheiro da terra e o som do rio se misturam às palavras.

Eu volto o meu olhar ao Coletivo de Escritores e Artistas do Vale do Paranhana – CEAP e percebo, em cada obra, o traço profundamente humano de quem escreve a partir do próprio chão. Na mediação da mesa dos escritores e suas vozes que brotam do cotidiano e o transformam em arte: Armando Severo, com Por Entre os Lábios (Taquara), desvela silêncios; Paulo Wagner, em O Velho Maragato (Taquara), reconstrói memórias; Vera Regina, em Fragmentos de Um Sonho (Taquara), costura lembranças; Silvio Juvenil Trein, com Em Uma Cidade Fictícia (Três Coroas), cria mundos paralelos; Vania Inês Ávila Priamo, em A Galerinha da Escola em: A Guerra Farroupilha (Parobé), reconta a história para novas gerações; Marina Vieira Basei, com A Voz do Coração (Parobé), fala da ternura e da força; Rafael Aguiar com seus textos em cordel e de ampla pesquisa e Suelén Colpo, em Entre Vinhos, Gatos e Silêncios (Porto Alegre), nos conduz pelos labirintos da sensibilidade.

Esses autores revelam que, num mundo apressado pelo global, o universal também mora no detalhe. Suas páginas preservam o que o tempo tenta apagar: os modos de falar, os gestos, as crenças, as alegrias e os medos que formam o tecido vivo das comunidades. Quando um escritor do Vale narra sua vila, sua serra ou sua beira de estrada, ele resiste ao esquecimento — e oferece ao leitor o dom de reconhecer-se.

A FLITAQ é, assim, mais que um evento literário: é o momento em que essas vozes encontram o público, em que o Vale do Paranhana se reconhece em suas próprias palavras. São escritores que constroem pontes entre gerações, resgatam o passado e inspiram o futuro.

A grandiosidade das literaturas locais não está no número de páginas publicadas, mas na coragem de transformar o cotidiano em memória e o simples em eternidade. Porque é nas histórias que falam de perto — como as que nascem no coração do Paranhana — que a gente entende, de fato, quem somos.

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