Eu costumo mostrar aos meus alunos que a relação entre conto, poema e poesia se revela no modo como cada um contribui para a experiência estética da leitura. O conto é uma narrativa curta, feita para emocionar, surpreender ou provocar reflexão, condensando em poucas linhas um enredo, personagens e um conflito central. O poema, diferentemente, estrutura-se em versos e estrofes, explorando ritmo, imagens e musicalidade para intensificar a expressão. Já a poesia não se prende à forma: é o impacto, a emoção e a beleza que despertam no leitor — e pode estar presente tanto em um conto quanto em um poema, numa canção ou até em uma cena simples do cotidiano. Por isso, nem todo conto é poesia, mas pode conter poesia; assim como nem todo poema é poético, embora carregue a possibilidade de transmitir poesia.
Resumindo:
- Conto → gênero narrativo em prosa, breve, com enredo, personagens e conflito, que busca causar impacto pelo acontecimento narrado.
- Poema → forma de escrita organizada em versos e estrofes, com rimas, ritmo e musicalidade, usada para expressar ideias ou sentimentos.
- Poesia → vai além da forma escrita, é o efeito estético e emocional que um texto provoca, podendo estar em um conto, em um poema, numa música ou mesmo em um instante da vida real.
Apresento a seguir dois textos sobre o mesmo tema, um rio: um conto e um poema. Ambos contêm poesia: o conto na prosa poética, que desperta imagens e sentimentos, e o poema na estrutura em versos, que realça ritmo, emoção e expressão.
Poema
Às margens do rio
Pedro gostava de brincar na beira do rio. Jogava pedrinhas, construía barquinhos de papel e observava como a correnteza os levava para longe, como se o rio fosse um mensageiro secreto.
Toda vez que fazia isso, pensava em seu pai. Ele havia partido há muito tempo para trabalhar em outra cidade, e Pedro sentia falta das histórias que ele contava ao entardecer.
— Quando eu voltar, vamos pescar juntos aqui no rio — prometera o pai antes de ir.
O menino acreditava na promessa como quem acredita no nascer do sol. Por isso, sempre que dobrava um barquinho de papel, escrevia uma palavra nele: saudade, coragem, esperança. Depois, soltava-o na água e imaginava que o rio o levaria até seu pai, onde quer que estivesse.
Certa tarde, sentado na margem, Pedro viu um barquinho rodopiar e, por um instante, pareceu ouvir a risada do pai misturada ao som da água. Sorriu. Não sabia quando o reencontro aconteceria, mas tinha certeza de que, assim como o rio nunca deixa de correr, o amor entre os dois também não deixaria de chegar ao destino.
Poema
Às margens do rio
Pedro brinca à beira do rio,
joga pedrinhas, faz barquinhos de papel,
cada correnteza leva um segredo,
como se a água falasse com seu coração.
Ele pensa no pai que partiu,
nas histórias contadas ao entardecer,
nas promessas deixadas no vento:
“Quando eu voltar, vamos pescar juntos aqui.”
Nos barquinhos, palavras se escondem:
saudade, coragem, esperança.
Pedro os solta na água,
imagina o rio levando-os até o pai.
E uma tarde, a corrente traz um sorriso,
uma risada misturada ao som da água.
O reencontro ainda não veio,
mas o amor, como o rio,
segue seu caminho, sem jamais parar.