Jingle Bell

Meu pai tinha um disco de vinil com músicas natalinas, tocadas em harpa, que ele ressuscitava todos os anos, antes, durante e, especialmente, na véspera de Natal.

Por algum período, nós toleramos aquilo, parte do ritual para saudar o nascimento do Menino Jesus. Mas ao longo dos anos, o som daquela harpa tornou-se insuportável, até para mim que gosto muito de música… e de harpa, mas detesto canções natalinas.

Um dia, o disco sumiu ou colocamos no sol para entortar e, consequentemente, não tocar mais. Mas logo veio o CD e acabou com nossa alegria. 

Lá estava meu pai ouvindo coisas até piores e depressivas, em homenagem a este período de Natal. Assim, jantávamos embalados por essas canções, até a hora de dormir ou de sair com os amigos para a festa do Clube Comercial, depois da meia-noite.

Nos Natais de meus avós maternos também tinha música, só que cantada por nós, os netos, crianças ainda. Meus primos sabem do que estou falando e do que passamos, decorando as letras e os textos do Jogral (pesquisem o que é isso no Google, por favor), que tínhamos que apresentar para a família, além da encenação do Presépio Vivo. O neto mais  novo sempre era o Menino Jesus na manjedoura. E nós, os mais “experientes”, ficávamos com os papéis de Maria, José e os Reis Magos.

A Isa, eu, o André, a Simone, a Andréia e o Paulo, primos mais velhos, vão lembrar até das canções, tenho certeza, e das risadas escondidas do vô e da vó. Já os primos mais novos, Alethea, Henrique, Leandro e Guilherme, eram os personagens convocados para o Presépio Vivo, papel que não queríamos mais assumir, mas éramos obrigados a encenar também, de alguma maneira, até o início da nossa adolescência.

Depois, cada um começou a fazer seu próprio Natal em famílias separadas. Os avós morreram, assim como meu pai e meus tios.

Nós ficamos sem o som da harpa, ninguém mais faz Jogral e o Menino Jesus adormece sozinho na manjedoura da nossa memória. 

Obrigada, primos, por termos encenado essa linda história juntos, graças aos nossos pais e avós, quando ainda se celebrava o verdadeiro Natal, com vinil e tudo, e o Henrique de Menino Jesus, berrando no Presépio, mais vivo do que nunca.

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