Hoje é um dia muito especial para nós: aniversário de Joaosinho Viegas, veterinário aposentado; esposo da Maruska e pai da Martina e da Milena; irmão de Nani, Leci, Lula, Jorge, Hugo e das irmãs já falecidas Elemir e Nair; filho de Zuza e do João.
Joaosinho, aquele que tem nome de menino no diminutivo, mas altura e caráter de um gigante. Aquele que depois de ajudar a todos da família, aos 28 ingressou na Medicina Veterinária da PUCRS, vindo a ser o primeiro veterinário de Igrejinha/RS. Aquele que participou do projeto Rondon, rodou o Brasil pesquisando sobre fauna e flora. Aquele que diz sempre que “prefere mil vezes os bichos animais, aos bichos homens”.

Na parte inferior, Joaosinho, as filhas Milena e Martina, esposa Maruska
Hoje comemoramos os seus 80 anos!
Quando ouvimos nosso pai contando todas as coisas pelas quais já passou e desafios que precisou enxergar de frente, eu e Milena ficamos sem palavras. Tantos os obstáculos, tantos foram os “nãos”, tantas foram as quedas, que chegam a nos emocionar.
Mas ele diz que: “Após tanto cair, a gente vai aprendendo a levantar mais e mais rápido. A queda já não machuca tanto… e levantar, seja pelo hábito ou falta de escolha, é a única opção.”

Joaosinho pagou a sua faculdade datilografando polígrafos. Quando ele tinha dinheiro para dormir na pensão, ele conseguia uma cama. Quando não dava, ele dormia embaixo da mesa da cozinha do local.
Já fez um parto dentro de um ônibus. Sim, ele precisava ajudar a moça que estava dando à luz e não daria tempo de chegar até o hospital.
Nosso pai já ajudou tanta gente, que nem conseguiríamos lembrar de todos os nomes aqui. E nós, filhas, ouvimos sempre dele: “Não importa o problema, eu quero ser parte da solução. Nunca me escondam nada, vocês sempre terão a mim”.

E é engraçado lembrar que na adolescência e início da nossa idade adulta, implicamos tanto com ele. Talvez as similaridades nos assustassem mais do que estávamos prontas a entender. Talvez as diferenças nos aproximassem mais do que estávamos preparadas a perceber.
Ninguém chega pronto a este mundo, né? Mas o que eu demorei a perceber, é que a maioria não parte pronta, também. Por que o viver, não vem com receita. Porque o caminho que eu escolho, pode ser diferente do teu ou o mesmo, mas se for para a gente se encontrar, vai acontecer. Já está escrito, mesmo que a gente não saiba ainda, por alguém que cuida de todos nós, lá de cima.

Hoje entendemos isso tudo bem melhor, e o curioso disso, é que isso não nos assusta mais. Fomos nos despindo do medo, da inveja, do ciúme, da …
“Filha, isso aqui na vagem não é estragado, é um detalhe dela mesma, olha. É malhadinha!”
(pausa para disfarçar o choro desta que vos escreve, limpar as lágrimas aqui no canto do olho e admirar a textura da vagem que meu pai acabou de me mostrar aqui)
“Lindo, pai! Vem, vamos tirar uma foto. Vou desenhar uma estampa!”
(mas na verdade, a foto virou parte deste texto!)

… vontade de estar sempre certa, de ter que ter sempre razão, de precisar brigar com todo mundo para provar um ponto, de ter que dar nossa opinião sobre tudo, de aceitar ou tolerar qualquer coisa, de fazer de conta que a gente consegue tudo, que damos conta de tudo… por que não, não damos.
A força que temos, boa parte veio do nosso pai. Ele é obstinado, dedicado, e ele não desiste até conquistar tudo que deseja.
Quando a minha irmã tinha 4 anos e eu 6, desenhamos nosso pai com nossa visão de crianças. Estes desenhos, hoje amarelados e com sinais visíveis da passagem do tempo, estiveram em quadros dispostos ao lado da cama dos nossos pais, por anos.
E sempre foram motivo do início de conversas do pai com seus amigos, sobretudo quando ele, paizão orgulhoso, falava dos dotes artísticos da minha irmã, sempre extremamente sensível e desenhista. E então, tivemos a ideia de criarmos juntas uma narrativa dessa passagem tão significativa para a comemoração dos 80 anos do nosso pai: resolvemos desenhar a ideia de mais de 30 anos atrás, com nossos olhos adultos.
Nosso pai sempre foi nosso protetor e a primeira pessoa para quem corríamos quando mais precisávamos. E ainda corremos, quando precisamos. Ele não é perfeito, nem precisa ser. Afinal, são as falhas que nos moldam e nos lapidam. São os aprendizados que nos indicam novos caminhos para roteiros já conhecidos. E as vistas novas, sempre nos surpreendem, não é? Novas flores, e até mesmo… novos espinhos.

Para minha irmã Milena:
“O que falar sobre o meu pai? Ou, melhor, o que sentir?
São tantas palavras e sentimentos que descrevem meu pai, que fica quase impossível sintetizar em poucas linhas.
Meu pai sempre foi meu porto seguro, meu norte, meu chão. Aquele que sempre me confortou com seu abraço e sorriso carinhosos, nos momentos bons e naqueles nem tão bons assim.
É realmente um privilégio poder estar ao lado do meu querido pai no seu aniversário de oitenta anos. Tenho muito orgulho e admiro demais o meu pai, pelo grande amigo, ser humano e profissional competente que ele é.
Na minha infância, quando eu tinha apenas quatro anos de idade, eu fiz um desenho para o meu pai, como presente de dia dos pais. Nele, desenhei meu pai indo ao trabalho, com sua maleta de veterinário, ao lado de um cachorro e em meio a flores. Neste desenho, fiz também duas nuvens: uma está feliz, com um laço vermelho em sua “cabeça”, boca vermelha e olhos fechados, evidenciando seus grandes cílios; enquanto que a outra nuvem está com uma expressão zangada, conforme pode ser visto através de suas sobrancelhas, e apresenta laço vermelho em sua “cabeça”, olhos abertos, boca vermelha e “blush” em suas bochechas.
Meu pai me contou que adorou meu presente e, ao me perguntar por que eu tinha desenhado as duas nuvens, eu respondi algo do tipo: “Tu não vais trabalhar apenas quando tiver sol!” Ao longo da minha vida, meu pai sempre lembrou com carinho deste meu desenho que é tão significativo para ele, pois, segundo ele, eu sempre fui uma menina sensível, observadora e detalhista.
Este ano meu pai completa oitenta anos de vida e, como presente, fiz novamente um desenho no qual o retratei indo ao trabalho. Neste desenho, meu pai está sentado em um banco de madeira, em meio à natureza do nosso sítio, e está vestindo camisa verde, calça cinza, cinto e sapato pretos, pois preservei as cores e estilo da vestimenta do meu pai do desenho antigo. No novo desenho, retratei dois animais do nosso sítio que meu pai adora: a vaca Boneca e a porquinha Pururuca. Meu pai está segurando uma Orquídea da Terra, para simbolizar o quanto gosta das flores, plantas e da natureza. Ao lado do meu pai, está sua atual maleta de veterinário, simbolizando que, embora agora seja aposentado, ele ainda trabalha com amor e dedicação à sua profissão. Neste desenho, fiz novamente as duas nuvens, uma com expressão feliz e a outra, zangada. Desta vez, fiz a nuvem feliz em tons de azul, enquanto que a nuvem zangada fiz em tons de cinza, fazendo menção aos dias de chuva nos quais meu pai trabalha ou vai ao sítio. Fiz ainda um arco-íris e sol: após a chuva, pode aparecer o sol e, então, as sete cores mágicas podem surgir no céu!
Desejo, do fundo do meu coração, um feliz aniversário ao meu querido e amado pai! Que o seu novo ano de vida venha com muita saúde, amor, felicidade e boas surpresas, pois acredito que elas sejam o estímulo necessário que nos impulsiona a seguir em frente, em busca dos nossos sonhos.”

Com uma vida de quase 40 anos ao lado um do outro, nossa mãe Maruska superou grandes momentos de dificuldade. O mais marcante para nós, filhas, foi o câncer de nossa mãe. Eu tinha 10 anos na época e a Milena, 8. Essa situação me marcou tanto, que por anos eu achei que deveria fazer medicina para salvar vidas como a da nossa mãe (mas isso é enredo para outra hora).
Os dois são o alicerce de nossas vidas. Parceiros, amigos, aliados em suas lutas enquanto casal que claro, ao decorrer de 40 anos juntos, passou por altos e baixos… mas sempre com amor, dignidade e respeito.
Dedicatória da esposa Maruska:
“Querido Joaosinho: esposo e companheiro há 40 anos!
Completar 80 anos é uma grande bênção! Parabéns e felicidades pela data!
O tempo se incumbe de trazer e depositar em nossas mãos o fruto da semente que plantamos em nossa vida. Nestes 80 anos muitos fatos marcaram tua vida. Porém tua coragem, disposição, dedicação e exemplo, sempre foram uma constante. És uma pessoa especial e um pai super zeloso e preocupado com o futuro e a felicidade de nossas filhas Martina e Milena.
Vários sonhos, conquistas e realizações aconteceram nestes 80 anos e são o resultado de muito trabalho, esforço, confiança, abnegação, compreensão, carinho e tolerância mútua.
Que Deus sempre te ilumine, abençoe, dê saúde e firmeza para convivermos juntos por muitos anos mais para que possa continuar tua jornada junto aos teus familiares.
Um carinhoso abraço de felicitações!”

Eu poderia falar aqui sobre muitas passagens já vividas ao lado do meu pai, mas o texto não é sobre mim, e sim, sobre todos nós. Meu pai esteve comigo em todos os importantes momentos da minha vida.
Ele me acompanhou a todos os 19 vestibulares que fiz, quando eu achava que medicina era o meu caminho. Eu morria de ciúme das minhas amigas nas viagens à Pelotas, Rio Grande e Santa Maria ganhando atenção do meu pai: “como assim, ele é MEU pai!”
Hoje damos muitas risadas! Ele com seu suéter em volta do pescoço ou da cintura, conferindo cada gabarito de vestibular comigo, me abraçando quando eu estive perto de passar e não passei, e quando eu estive longe de passar, e não passei. E claro, achando estranho demais quando ao invés de estar sentada nos auditórios das pré-provas, eu ficava desenhando nos hotéis… (anos mais tarde, a filha formada em Design Gráfico daria a resposta a estas inquietações).
Ele esteve comigo me buscando inúmeras vezes no aeroporto, quando viajava para ver meu namorado (que hoje é noivo). E em uma dessas vezes, ele me buscou com sapatos diferentes em cada pé, e rimos muito. Esse é nosso pai, distraído, engraçado e também correto, severo e que fala alto. Tem vezes que acho que está brigando, mas está só falando, mesmo. Ele é assim, este é o seu jeito e o amamos muito.
E segue com a gente, mostrando galinhas escondidas dentro do carro para nossa mãe não ver, preparando café ou buscando uma orquídea nativa que ele descobriu nas terras do sítio para que as filhas façam alguma ilustração ou estampa nova.

Claro que eu não lembro exatamente o que eu pensei quando eu desenhei meu pai, aos 6 anos. Afinal, passaram-se mais de 32! Mas eu lembro da sensação que eu tinha e sentimentos da época. Louco isso, né?
Então, olhando para o desenho antigo, meu pai com longas pernas e bracinhos curtos, cabeça tocando as nuvens e o sol, sei que desenhei assim, pois era assim que o via da altura e estatura de uma criança de 6 anos que olha para cima para seu pai gigante, forte e seu herói. Ele com nossa cachorrinha Pinga, as flores do jardim dos meus avós Rudi e Nilda. E claro, não poderia faltar o bigodão!

Meu pai me passava um misto de medo e proteção. Eu tinha – e em partes, ainda tenho – um grande medo de decepcioná-lo. Eu sentia que tinha que ser uma das melhores alunas, uma das meninas mais comportadas. E vez ou outra, eu me rebelei. Uma vez eu ouvi de uma professora: “O que teus pais diriam se te vissem assim?”
Tem um grande peso em ser filha mais velha do Joaosinho e da Maruska, pessoas tão conhecidas na cidade: o primeiro veterinário e a professora emérita.
Na minha releitura, hoje eu estou ao lado do meu pai. Não o enxergo mais de cima para baixo, pois como mulher adulta, hoje sinto que estou em pé de igualdade. O tempo passou, as flores cresceram e o jardim prosperou. A cachorrinha Pinga já não está mais aqui. Mas olhamos juntos para tudo que a gente já viveu e ainda viverá juntos.
Saber contemplar tudo que já vivemos sem mágoas, enxergando em cada coisa boa e ruim um meio de aprender um pouco mais e fortalecer nosso espírito e nossa fé, é o que te desejo hoje e sempre, querido pai.

Este texto é sobre amor, sobre gratidão, sobre vida, sobre perdão, sobre celebração. Já percebeu, né? Mas é também a nossa homenagem ao nosso pai, esposo e sogro.
E por falar nisso… o genro Eric (noivo da Martina) quer te dizer que:
“Eu poderia dizer uma série de coisas sobre meu sogro, virtudes não faltam. Mas vou usar esse espaço para demonstrar gratidão.
Ele me deu seu bem mais precioso, sua filha Martina, que mudou minha vida por completo. Ele me recebeu com carinho e como um membro da família desde o dia “01”, de forma que tenho privilégio de ter na figura de sogro um amigo e um segundo pai.
Sempre nos inspirou e nos motivou a sermos a melhor versão de nós, esteve presente em todos os momentos, principalmente nos mais difíceis.
Nesse aniversário sou grato por ele ser exatamente quem e por tê-lo em minha vida. O aniversário é dele, o presente é nosso. Feliz aniversário, Joaosinho. Que Deus te dê saúde, felicidades e anos de vida ao nosso lado.”

Depois de tantos anos recebendo teus bilhetes e recadinhos assinados como “O Paizão”…
… agora é a nossa vez de assinar essa coluna escrita e desenhada a muitas mãos: tu és um pai 80 nota 10!
És perfeito em tuas imperfeições e maravilhoso mesmo após todos os remendos que precisou costurar em tua alma e coração. És um sobrevivente de muitas formas. E salvaste mais pessoas e animais do que poderia imaginar. Cada uma dessas passagens da tua vida, boas ou más, te fizeram ser quem és e nos fizeram ser quem somos.
Temos no sangue o teu DNA e somos parte viva da história que teus passos já contaram ao mundo. Queira Deus que possamos seguir caminhando juntos contigo muitos outros passos mais.
Afinal, fizemos a promessa de escrevermos juntos, um livro! Lembra? Talvez este seja o primeiro capítulo de uma história assíncrona de amor e de luta, pois viver é saber virar páginas e relembrar momentos, aguardando pelos textos que já foram escritos, mesmo que ainda não tenhamos consciência disso. Somos atores de uma narrativa linda que é escrita no coletivo, sob o olhar do melhor e mais maravilhoso diretor de arte que existe: Deus.
Que benção é te ter forte e saudável, aqui com a gente, neste 28 de setembro!
Feliz aniversário, pai galã, forte e nosso herói!
Nosso ranzinza, nosso gritalhão, nosso amigo, nosso tudo!
Nós te amamos!
Com amor,
“As filhotas”.