Eu sempre vou achar curioso quando eu recebo mensagens assim, perguntando:
“Afinal, tu és designer ou escritora?” – os dois
“Tu desenha estampas, és ilustradora?” – também!
“Tá, mas escreve livros e é copywriter, também?” – aham!
“Hmmm… pesquisa o futuro? Como assim?” – não gosto da palavra “tendência”, pois algo que tende a algo, já aconteceu e não é novo. Então, busco pesquisar o futuro e o consumo mediante o comportamento humano e as relações interpessoais.
“Nossa, estuda cultura, moda e comportamento?” – sim, adoro.
“Mas afinal, é formada em que, mesmo?” – Fiz bacharelado em Design Gráfico, pós-graduação em Design de Superfície e sou Mestra em Cultura Brasileira. Rumo ao doutorado, agora.
“Mas então, tu faz de tudo um pouco?” – sim.
Os atos de intraempreender e empreender exigem uma visão holística dos negócios, e pensar que eu só precisarei ser “muito boa” em uma única coisa é carimbar meu atestado de isenção de responsabilidade.

Trabalhar com criatividade, inovação e gente é não estar agarrada a rótulos. Pelo contrário, é estar comprometida em criar caminhos que levem o time rumo aos melhores resultados; é fortalecer o senso de equipe e aguçar o olhar com empatia para todos que estão ali, diariamente, lutando na arena comigo; e é deixar que a paixão pelo que eu faço não me cegue a ponto de estar tão obstinadamente agarrada a uma ideia, que não possa voltar atrás e reconhecer meus erros (porque sim, eles acontecem).

“Nossa, mas você precisou sair de sua cidade natal para poder crescer e prosperar?”
Meu bisavô foi um dos donos do primeiro curtume da região do Paranhana. Ajudou a erguer a maioria das empresas de calçados mais renomadas da região, vendendo couros a prestação para que os pequenos pudessem crescer. Ele não conseguiu viver para ver, mas os pequenos cresceram. Cresceram, prosperaram e hoje as empresas são lideradas pelas novas gerações de suas famílias. É uma história bonita esta. Eu sinto orgulho de conhecer minha origem, pois foi este conhecimento que me fez saber quem construiu a escada da subida de grandes empreendedores regionais. A História registra tudo, mesmo quando a lembrança falha 🙂

Chegou um momento, onde após ter passado por algumas situações absurdas que nem vale a pena mencionar aqui, me vi diante de uma bifurcação de caminho. Precisei escolher:
1. Continuar esperando que alguém olhasse para mim e me ajudasse a crescer como meu biso e avô ajudaram a tantos, no passado;
2. Construir meu futuro e carreira em um lugar onde meu sobrenome e descendência realmente não importassem, para que um dia pudesse ser eu aquela a ajudar outros pequenos a vencer.
E vim para São Paulo, em 2016.
E comecei a desenhar e escrever para marcas nacionais e internacionais.
E comecei a obter o reconhecimento e apoio de estranhos, que sempre esperei receber de quem me viu nascer, crescer, estudar e qualificar.
E aprendi a empreender. E conheci, na prática, o que é intraempreender.

Às vezes você busca mudanças tão desesperadamente que olha ao redor e se sente completamente sozinho e desmotivado.
E aí, é necessário entender que quem precisa mudar é você: por dentro, por fora, de mindset, de posicionamento, inclusive de cidade, de estado e em alguns casos, até de país.
Eu comecei a empreender por necessidade.
Mas foi a minha vontade de ser e fazer diferente que está me mantendo neste caminho. E me orgulho disso.
Intraempreendo, empreendo e em ambos os casos, aprendo.

Agradeço a você, Maltus Kirsch.
Alguns legados não são passados através da herança financeira: alguns deles, são passados através de valores.
E é assim que eu vou escrevendo – e desenhando! – a continuação da minha História.