Olá! Tudo bem com vocês? Eu estou ótima. Mesmo! “Nossa, Tina! Tá tão bem assim?” – Sim, estou ótima. Sabem o motivo? Precisamos validar os momentos que vivemos, extraindo deles o melhor, sempre. É como um suco de frutas feito com frutas que estão levemente machucadas em um de seus lados. Nós cortamos as partes estragadas e o restante vai para o liquidificador e vira uma bela de uma vitamina. Quem vê o copão da bebida ali, geladinha e colorida, nem imagina que foi necessário retirar umas partezinhas ruins aqui e ali, não é? E o sabor, hmmmmm! Delícia. É isso. Com pequenos problemas, todo mundo precisa lidar todos os dias. Isso se chama vida. Mas se a cada dia difícil eu for capaz de dormir, sobreviver e acordar forte, pronta para encarar um novo desafio, meus amigos, sim, estarei ótima.
E essa introdução que em um primeiro momento pode parecer que não tem nada a ver com o restante do texto ou com este título meio enigmático que coloquei de chamada, meus caros, venham comigo: tem tudo a ver.
Passado, presente, futuro. Na moda, esses três espaços de tempo se mesclam, se fundem, se complementam. Mas não é apenas porque o tempo passa e a moda, como um fenômeno social e comportamental, ajusta-se a ele, meio que a contragosto. É algo mais que isso. Um é reflexo do outro, nessa espécie de espelho de inspirações que nos mostra o passado já indicando possíveis caminhos a trilhar no futuro. É que a moda bebe de inúmeras fontes de inspiração.

A moda se conecta, muda e move. A moda é mais do que aparenta. É mais ou menos como aquela professora sorridente e amável, super inteligente e linda, mas que cobra beeem nas provas, deixando os alunos de cabelo em pé e com o pensamento ‘meu Deus! De onde veio isso?’, entendem? É uma deliciosa loucura, com a qual pesquisadores de materiais, desenvolvedores de estampas e estilistas deparam-se a cada nova coleção.
Mas é preciso saber para onde se quer ir. Se não, por melhor que seja o profissional, não haverá bússola no mundo capaz de indicar o caminho correto.

Aliás, eu sempre acreditei que a moda internacional fazia esse papel de bússola nas pesquisas de tendências, ao contrário do que pensavam e ainda pensam muitos colegas de profissão, que dão a ela um crédito muito maior e pomposo – o de destino a ser conquistado em uma coleção. Já pararam para pensar sobre a palavra tendência?
“Marca ‘tal’ tem uma equipe de coolhunters incrível! Eles pesquisam tendências”.
O que tende a algo, já nasce morto. Não é mais novidade. O que tende a algo, é como uma placa de direção em um shopping: ela indica que é possível chegar na praça de alimentação dobrando a esquerda, mas não indica que ao chegarmos lá, encontraremos inúmeras pessoas já se alimentando nas opções oferecidas; não explica que se chegarmos muito tarde, não encontraremos mesa e cadeiras vagas; não diz que ali não tem novidades, tem apenas opções de mais do mesmo, as quais já estão no radar dos mais famintos que chegaram ali antes que nós.

A moda internacional é assim. Ela tende a ser obsoleta no exato momento em que a primeira modelo de uma de suas grandes marcas pisa na passarela. Milhares de smartphones filmam, fotografam e publicam em tempo real sobre as cores das roupas, sobre os saltos ‘desejo’ dos calçados, sobre as construções e estampas das peças desfiladas. É um grande show de tendências que em breve serão replicadas ao redor do mundo, mudando cores ali e aqui, ‘aumentando um pouco a grossura das listras da estampa’.
É um cansaço sem fim. Para os pés das modelos, abertos e machucados por precisarem levar calçados desconfortáveis passo a passo pela passarela; para os olhos dos que assistem, que sentem-se anestesiados por tanta luz, cor e informação; para os pobres smartphones, que em meia hora de desfile já estão sem bateria.
Ah, o Zeitgeist! O louco e intenso espírito de uma época. Que agridoce mistura intelectual e cultural essa.

Na moda, o coolhunter que melhor conseguir decodificar os sinais que percebe ao seu redor e melhor transformá-los em produtos que encantem, vendam e ofereçam soluções a problemas previamente detectados no mercado, vence. É uma competição velada.
Na verdade, eu sempre vou apertar na tecla que diz que colaborar é melhor do que competir. Alguns importantes nomes do cenário da moda, arte, branding e design andam reforçando esta máxima que eu já adorava sair dizendo por aí.
Muito obrigada, irmãs Alcantara! Se vocês ainda não conhecem estas três mulheres incríveis, corram para espiar o podcast delas no Spotify (Tudo Orna), acessem o site além dos perfis oficiais no Instagram @tudoorna e @efeitoorna que eu garanto que valerá a pena.
As irmãs são blogueiras, educadoras, conectadas com branding, moda, arte e design, e porque não? Visionárias. Acreditaram na ideia de unir forças e criaram juntas o Orna Group. Possuem um café em Curitiba, uma marca de make up, uma marca de bolsas, são notícia da Forbes e speakers do TedX. Já escreveram livros, também. É mole? E não, elas não possuem 75 anos cada uma, pelo contrário. Essas jovens e inspiradoras mulheres mostram que pesquisar sobre áreas frutíferas de atuação no mercado tem absolutamente tudo a ver com o aguçar do olhar rumo ao futuro, analisando os passos dados até então e orgulhando-se da caminhada. Claro, com um planejamento forte e estratégico por trás, amparado pelo branding consistente e cheio de propósito.

“Mas como é que nós conseguimos detectar os sinais corretos do que pode vir a ser uma grande sacada?”
Não há receita de bolo, meus caros. O olhar precisa ser treinado a enxergar nas situações cotidianas, possibilidades que poderão evoluir para grandes oportunidades. E isso, esse treinamento do olhar, tem a ver com a união de todos os nossos sentidos + intuição. Não é algo que se ensina, mas é algo que se aprende. As melhores ideias estão geralmente bem pertinho da gente. Costumo dizer que andamos muito conectados através da tecnologia mas infelizmente, extremamente desconectados com o nosso feeling, com o ato de olhar ao redor e enxergar de verdade, não apenas ver.

Não aproveitamos os momentos, não pesquisamos de verdade. Não sentimos mais com o olhar nu do olho, o qual anda muito anestesiado pela tela do celular ou pela câmera que tudo grava para postar nas redes sociais, ao invés de viver para ter do que lembrar depois. E o mais interessante disso? Isso, esse ato maluco de estar colado ao Smartphone todo o tempo, faz parte do Zeitgeist de nossa época.
Vocês certamente já ouviram pessoas mais velhas dizendo que ‘ahhhh, que saudade dos tempos passados! Aquilo sim que era vida!’. Esse saudosismo todo, que romantiza o que foi vivido e delega a contemporaneidade a um segundo, terceiro ou quarto plano, tem sentido. Os antigos viviam mais os momentos do que nós, os jovens. E é justamente por terem vivido mais os momentos, que eles se lembram mais do que viveram e sentem mais falta do que foi vivido. Diz aí: no último show que foste, pulou e gritou, curtiu all the time? Ou ficou tirando fotos, gravando e assistindo pela tela do stories do Instagram?
‘Ah, Tina! Mas tu és designer, não pode ser contra a tecnologia!’ Nem perto disso, gente. Amo a tecnologia. Se eu, pesquisadora de moda e desenvolvedora de materiais franzisse a cara para a tecnologia, estaria ultrapassada. Amo tecnologia! Mas sabe o que amo muito, também? Refletir sobre ela e sobre os impactos – positivos ou não – que ela manifesta em nossas vidas.
O futuro é agora. O passado foi ontem. O presente está quase ultrapassado.

E a diferença? A diferença quem faz é aquele capaz de enxergar que a criatividade é mutante, o comportamento humano é fonte inesgotável de inspiração e que sim, a humanidade é mesmo fascinante. Culturas diferentes, atitudes diferentes, pensamentos diferentes. Agora basta termos coragem para criar mais e melhor, de preferência, unindo as nossas diferenças: nada mais bonito que equipes multidisciplinares capazes de enxergar com antecedência aquilo que a maioria verá anos depois, apenas como tendência.
Vamos juntos?